Todos os livros de auto-ajuda falam sobre a importância do elogio recebido durante a infância. Algo que, sem dúvida, aumenta nossa auto-estima e nos ajuda a moldar nossa personalidade. No entanto, ao elogiar as crianças pelo modo como fazem certas coisas, fazendo-as acreditar que as consideramos maravilhosas, estamos realmente encorajando-as a ter certeza de si mesmas e ser felizes? Estamos realmente fomentando uma auto-estima alta?
Ser elogiado pelo que fazemos é, sem dúvida, positivo. Uma palavra de parabéns pode ser uma ajuda para avançar, para continuar a desenvolver uma certa capacidade, para fazer ainda melhor. Se, por exemplo, recebermos elogios depois de passar em um exame, ficaremos motivados a estudar mais e ter notas mais e mais altas ou nos servirá como um empurrão para tentar superar aquela matéria que não dominamos bem.
Mas o que acontece quando os elogios se tornam repetitivos? O que acontece quando esperamos elogios, mas surpreendentemente não os recebemos? Às vezes, o elogio pode nos levar a escolher o caminho mais fácil, em vez de tentar nos superar, independentemente das dificuldades que encontrarmos ao longo do caminho em direção aos nossos objetivos.
Mas há mais: o elogio pode nos levar ao que não gostamos. Em outras palavras, podemos querer obter um resultado positivo apenas para receber um elogio, sem realmente desfrutar do que estamos fazendo. É importante que as crianças não pensem em recompensas toda vez que fizerem alguma coisa. O elogio poderia funcionar em paralelo com a obtenção de um presente recebido toda vez que resultados positivos fossem obtidos.
O Psicólogo e Mestre em Educação Marcos Meier, realizou uma palestra sobre “A Influência dos Elogios no Desempenho das Crianças e na Formação de Valores” em que documenta de forma muito interessante este tema.
Recentemente, um grupo de crianças pequenas passou por um teste muito interessante. Psicólogos propuseram uma tarefa de média dificuldade, que elas executariam, contudo, sem grandes problemas. Todas conseguiram terminar a tarefa depois de certo tempo. Em seguida, foram divididas em dois grupos.
O grupo A foi elogiado quanto à inteligência: “Uau! Como és inteligente!”, “Como és esperto!”, “Que orgulho!”… E outros elogios relacionados à capacidade de cada criança.
O grupo B foi elogiado quanto ao esforço: “Parabéns! Gostei de ver o quanto te dedicaste nesta tarefa!”, “É muito bom ver o quanto te esforçaste!”, “Como és persistente! Tentaste, tentaste, até conseguir… Muito bem!”. E outros elogios relacionados ao investimento realizado e não às capacidades percebidas na criança.
Depois dessa fase, uma nova tarefa de dificuldade equivalente à primeira foi proposta aos dois grupos de crianças. Aqui, elas podiam escolher se queriam ou não participar da mesma. As respostas das crianças surpreenderam. A grande maioria das crianças do grupo A não participou. Não quiseram nem tentar. Por outro lado, as crianças do grupo B aceitaram o desafio. Não recusaram a nova tarefa.
“Quem faz o bem desinteressadamente, sem pensar em elogios ou recompensas, terá as duas coisas no final”
-William Penn-
ELOGIOS QUE DESTROEM A AUTOESTIMA
Analisando os elogios que as crianças estão acostumadas a receber durante a infância, podemos notar três aspetos fundamentais que, apesar de acreditarmos que podem aumentar a autoestima, na verdade têm a função oposta.
1. Elogiar a capacidade e não o esforço
Este é um erro extremamente grave que pode ser a causa de muitos problemas. O que importa é o trabalho duro, este é o elemento que realmente influenciará o resultado. Até pessoas inteligentes, se não se esforçam, não recebem nada.
Já conheceu um aluno com as habilidades necessárias para obter boas notas, mas que não tira proveito delas? A falta de esforço afetará o resultado. É sempre bom elogiar o esforço, pois, ao elogiar a capacidade, destruiremos a auto-estima.
2. Elogios exagerados, não específicos
Alguns elogios são exagerados. Um exemplo? “És um gênio”, “és um artista” e assim por diante. Os efeitos desses elogios podem ser contraproducentes em crianças, porque, em vez de fortalecer sua autoestima, alcançarão os resultados opostos.
Aprenda a fazer elogios mais realistas, como “gosto muito do teu desenho”, “mandaste muito bem”, e assim por diante; não tente aumentar a autoestima da criança de maneira artificial, porque ao dizer à criança que ela é um gênio, ela vai acreditar. E ao fazer isso, pode parar de se esforçar.
3. Adicionar pressão não é a solução
Quando elogiamos, às vezes colocamos mais pressão nos outros do que deveríamos. Se alguém pensa que a criança é um gênio, ela pode se sentir obrigado a manter esse status e pode estar sujeito a uma pressão totalmente desnecessária.
É importante que elas se esforcem e se superem, mas a pressão não é sinônimo de motivação. A criança deve estar motivada, não sob pressão. Estresse quando criança? Ansiedade?
“Não devemos confiar muito em elogios. Às vezes a crítica é necessária “
-Dalai Lama-
Mesmo que a palavra “elogio” seja positiva, como vimos, ela pode assumir uma conotação negativa se não for usada da maneira correta. Aprenda a elogiar corretamente e pense que às vezes o elogio, especialmente se excessivo, não é necessário.
Há elogios positivos, que reforçam a auto-estima dos miúdos, fazendo com que queiram continuar a tentar realizar tarefas. Há outros que são frágeis, com enfoque apenas no ego de cada um.
Nosso filhos precisam aprender valores, princípios e ética: precisam respeitar as diferenças, lutar contra os preconceitos, adquirir hábitos saudáveis e construir amizades sólidas.
(Do site lamenteemeravigliosa)
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